Cimarrón: de gado e cão ao chimarrão
A tradição do chimarrão é antiga. Os desbravadores, nômades por natureza, com
saudades de casa e longe de suas mulheres, estavam acostumados a grandes
"borracheiras" - porres memoráveis que muitas vezes duravam a noite toda. No dia
seguinte, acordavam com uma ressaca proporcional. Os soldados observaram que
tomando o estranho chá de ervas utilizado pelos índios Guarani, o dia seguinte
ficava bem melhor e a ressaca sumia por completo. Assim, o chimarrão começou a
ser transportado pelo Rio Grande na garupa dos soldados
espanhóis.
As
margens do Rio Paraguai guardavam uma floresta de taquaras, que eram cortadas
pelos soldados na forma de copo. A bomba de chimarrão que se conhece hoje também
era feita com um pequeno cano dessas taquaras, com alguns furos na parte
inferior e aberta em cima.
Os paraguaios têm por tradição
tomar o chimarrão frio... O "tererê" paraguaio pode ser tomado com gelo e limão,
ou utilizando suco de laranja e limonada no lugar da água.
Na Argentina e no Uruguai a erva é triturada, ao
contrário do Brasil, onde é socada. Nos países do Prata, a erva é mais
forte, amarga, recomendada para quem sofre de problemas no fígado.
A palavra chimarrão tem
origens no vocabulário espanhol
Do espanhol,
"cimarrón" significa xucro, bruto e bárbaro, e foi utilizado para
designar o gado selvagem que se reproduziu nas vacarias, no intervalo entre o 1º
e o 2º Ciclo Missioneiro. Vale lembrar que na primeira tentativa jesuítica de
reduzir os índios, 18 reduções foram fundadas e cada uma delas recebeu
aproximadamente 100 cabeças de gado. Porém essa tentativa fracassou, índios e
jesuítas foram embora, e o gado tornou-se selvagem, espalhando-se e
reproduzindo-se em imensos campos, chamados de vacarias. Quando os jesuítas
regressaram, passaram a chamar esses animais de "cimarrones"
E assim, a palavra chimarrão,
foi também empregada pelos colonizadores do Prata, para designar aquela rude e
amarga bebida dos nativos, tomada sem nenhum outro ingrediente que lhe
suavizasse o gosto.
A raça de cães
cimarrón
Também chamado de cachorro
"crioulo" na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, o Cimarron é descendente direto dos
cães trazidos pelos espanhóis durante o descobrimento, a conquista e a
colonização da América.
Ao cruzarem-se entre si,
Mastins, Galgos e Lebreis foram constituindo uma raça que é fruto de absoluta
seleção natural, sobrevivendo apenas os mais aptos. Nesse aspecto, sua formação
tem a mesma origem e passou pelo mesmo rigorismo que o Cavalo Crioulo, até
firmar-se como raça definida.
No território da atual
República Oriental do Uruguai, situada sobre o Rio da Prata e Atlântico Sul, foi
onde subsistiu melhor e com mais tipicidade.
No final do século XVIII, na
época das guerras pela Independência, o General José G. Artigas os imortalizou
com sua célebre frase: "Quando me quede sin hombres, pelearé com perros
cimarrones!" - Quando ficar sem homens, lutarei com cães
cimarrones!
No final do século XVIII, a
economia principal da região era a exploração bovina, tendo o couro como
principal produto. Assim é que, devido à facilidade e abundância de alimentação,
o número de cães "cimarrones" foi aumentado em grandes proporções, causando com
isso grandes transtornos. Por ordem do Vice-Rei, no ano de 1.792 foram mortos
mais de 300.000. Cada cota de cães abatidos valia uma quantia em
ouro.
Algumas mães com seus filhotes
conseguiram se salvar, escondendo-se nos matos nativos do Nordeste Uruguaio,
hoje Departamentos de Rocha, Treinta y Tres e Cerro Largo. Foi onde o Sr. Carlos
Alonso Imhoff pôde ir resgatar os descendentes daqueles Cimarrones e depois de
rigorosa seleção, escolheu os primeiros 17 exemplares que serviriam de base para
oficializar a raça e redigir o Standard da mesma no ano de
1.989.
No
Brasil foi introduzido através da fronteira do RS com o Uruguai, tendo como
principais núcleos criatórios, os municípios de Bagé e Jaguarão
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