quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Manejo do pássaro-preto (tirado da internet)

Manejo do pássaro-preto
Autor(es): Júlio José Centeno da Silva

A espécie Agelaius ruficapillus é encontrada nas “terras baixas” no Rio Grande do Sul. Regionalmente, esse pássaro é conhecido por Anú ou pássaro-preto, apesar de seu nome vulgar, pouco conhecido, ser Garibaldi (Figura 1A e 1B). A população desse pássaro aumentou nos últimos anos, sendo considerado como uma praga para a cultura do arroz irrigado pelos produtores rurais e uma espécie a ser preservada pelos ambientalistas. O conflito do problema era encontrar uma solução que contemplasse ambos os grupos de atores: redução do dano à cultura do arroz sem comprometer a sobrevivência da espécie. Por meio de um trabalho participativo, buscou-se respostas para identificar a causa do aumento populacional do pássaro, alternativas de controle populacional que não fossem agrotóxicos, e aprovação de um instrumento legal que permitisse e ordenasse um futuro plano de manejo.

   
Fig. 1A. Pássaro-preto(A. ruficapillus) macho adulto.
Fig. 1B. Pássaro-preto(A. ruficapillus) fêmea adulta.
Foto: Ferrez, L.;1992 Foto: Andrade, M. A.;1992
Foi identificado que os pássaros comem as sementes de arroz e arrancam as plântulas durante o período de implantação da cultura (Figura 2). Nessa fase, ocorre redução de 57,9% no estande, em forma de manchas, em áreas localizadas a 50 m de bosques, e de 24,4% em áreas localizadas a mais de 200 m de bosques. Não existe diferença de intensidade de ataque entre os diferentes sistemas de semeadura. As lavouras no sistema pré-germinado são as primeiras a sofrerem o ataque, pois normalmente são localizadas próximas de matos, são as primeiras implantadas e apresentam danos mais intensos. Durante a fase reprodutiva do arroz, os pássaros atacam as panículas (Figura 3), o que causa redução média de 1249 kg/ha na produtividade das lavouras localizadas próximas a matos, e de 964 kg/ha nas áreas afastadas de matos.

Fig. 2. Dano causado por A. ruficapillus no período de semeadura do
arroz (Município de Rio Grande, RS, Brasil, 1995)
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Foto: Silva, J. J. C. da 


 
Fig. 3.  Dano causado por A. ruficapillus no período de maturação do arroz. Direita: panícula sem dano. Esquerda: panícula com dano (Rio Grande, RS, Brasil, 1996).
Foto: Silva, J. J. C. da
Dois motivos justificaram os trabalhos para identificar as causas do aumento populacional. O primeiro foi a especulação, por parte de grupos ambientalistas, que o aumento populacional poderia ser decorrente da morte de predadores vitimados pela cultura do arroz. O segundo motivo era encontrar, por meio do exercício de causa-efeito (Figura 4), o ponto de interferência mais conveniente para manejar a população do pássaro, ou seja, controlar as causas do aumento populacional. Como resultado, identificou-se que o aumento da população de pássaros-preto é resultado da perda de arroz durante a colheita, da perda de arroz nas estradas e dos resíduos da pré-limpeza do arroz, que ficam à disposição dos pássaros durante o inverno. Essa oferta "extra" de alimentos resulta em redução da mortalidade dos pássaros, especialmente os jovens, o que faz com que as fêmeas não precisem sincronizar a sua reprodução. Foi constatado que o período de reprodução dessa ave deixou de ser apenas o mês de março e passou a ocorrer de setembro a maio. Assim, sugere-se a redução da oferta "extra" de alimentos durante o inverno para diminuir o período e a intensidade de postura do pássaro-preto e, por consequência sua população ‑ conforme o seguinte modelo:
Redução alimentos → aumento mortalidade → redução reprodutividade → população original 

 
Fig. 4. Modelo de causa-efeito do aumento populacional do pássaro-preto (A. ruficapillus) no Rio Grande do Sul.
Fonte: Silva, J.J.C. da, 2004.
O objetivo do plano de manejo do pássaro-preto não é a eliminação total da sua população, mas a sua manutenção abaixo do nível de dano econômico. O pássaro-preto, como outras espécies, é importante aliado dos agricultores, pois come insetos e sementes de plantas daninhas. Isso justifica o não emprego de agrotóxicos, principalmente iscas tóxicas, pois existe mais de uma centena de espécies de aves associadas à cultura do arroz. Essas aves alimentam-se de insetos e pequenos animais e são fundamentais para o controle biológico de pragas. O plano proposto considera o equilíbrio entre a redução dos danos causados por essa ave e a preservação dos benefícios da mesma para a agricultura. Não busca a redução da sua população imediatamente. Os agricultores concordam que precisarão ser pacientes e aprender a conviver com essa situação por algum tempo. É importante destacar que o sucesso do plano depende, exclusivamente, da adoção das recomendações por um grande número de produtores, implantando-as em regiões e não isoladamente em propriedades individuais. As recomendações do plano aprovado estão descritas de forma resumida no Quadro 1 e foram respaldadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente por meio da Portaria Nº 63 de 26.05.98.

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