domingo, 5 de outubro de 2008

MEDICIONA (COSTUME DOS ITALIANOS) CREOLINA

Medicina
Como nas culturas primitivas em geral, também entre os nossos imigrantes italianos a medicina era toda caseira, à base de ervas, raízes e cascas de árvores. Vão aqui algumas amostras:
Gripe – Colocar uma laranja numa chaleira e deixá-la sobre o fogão até ficar bem quente. Comê-la com casca. Ou então:chá de folhas de pitangueira ou de camomila, ou de laranjeira queimada com brasa e açúcar. Ou ainda, leite quente com mel.

Tosse – Podia ser combatida com chá de folhas de ameixa de inverno, folhas de figueira, alho com mel, limão com mel, malva, gemada com marcela.

Sinusite – Chá de cavaco de coqueiro vermelho.
Coqueluche – Leite de égua ou água de taquara do mato.
Dor de ouvidos (nenéns) Leite materno, banha quentinha, suco de folha de abóbora, aplicados nos ouvidos.
Fígado – Chá de carqueja ou de marcela ou de pessegueiro.
Pneumonia – Erva-de-passarinho.
Congestão de fígado – Pariparoba.
Rins – Chá de cavaco de grapiapunha amarela, ou água de abóbora fervida.
Bexiga – Pata-de-vaca, carrapicho-de-carneiro, quebra pedra, folha de couve ou corticeira.
Hemorróidas- Lavar com chá frio de erva-de-bicho ou fazer banho de assento e também tomar o chá.
Apendicite – Chá de raiz de guanchuma ou de casca de árvore do araticum.
Garganta – amoreira, tansagem.
Azia – Carqueja
Ácido úrico – Rolha de couve, cerejeira, pata-de-vaca.
Tosse em bebês – Manjerona.
Erisipela – Folhas de sabugueiro.
Ferimentos – Para estancar o sangue: penugem de socó ou pó de café com açúcar. Contra infecção: lavar com água de folha de mamona fervida. Isto para evitar o tétano, não para curar o ferimento, que só fecharia depois de parar de usar.
Feridas – Lavá-las com água de picão e lanceta fervidos. Para cicatrizá-las: sebo ou banha.
Queimaduras pequenas ou assaduras: nata. Em casos mais graves: vinagre com farinha de milho.
Furúnculos e tumores – Sabão com açúcar ou cataplasma de linhaça com arroz. Também se usava água de mamona fervida ou folhas de couve esquentada e amassada e untada com banha.
Diarréia – Chá de folhas de pitangueira ou camomila. Esta última era usada contra a febre. Para baixar a febre, também chá de aipo.
Bernes – Pele da casca do ovo. Colocada em cima, o sufoca. Se o berne se localizava no olho, colocava-se em cima uma massa mole de farinha de trigo, a fim de que o inseto entrasse nela.
Inflamação – Lavava-se a parte afetada e tomava-se chá de malva ou cancorosa.
Machucadura – Mentruz
Dor de barriga – funcho, pitangueira ou cascas de romã.
Cólicas menstruais – Camomila ou chá de casca de cebola.
Impurezas no sangue – Chá de folhas de noz italiana.
Umbigo dos recém-nascidos – Banha.
Para acelerar o aparecimento do Sarampo – Chá de raiz de urtigão.
Nevralgias – erva cidreira ou chá de alfafa.
Batidas na cabeça (galo) – Vinagre com sal ou encostar a lâmina fria de uma faca.
Cansaço nas pernas – Lavá-las com salmoura morna.
Intestino preguiçoso – Tomar água na fonte em Jejum. Muito usados foram também o chá de Sene, o Óleo de Palma Christi, o Óleo de Amêndoa e o de rícino. Este último era misturado a todos, uma ou mais vezes ao ano. Era muito comum quando alguém estava com febre tomar óleo, pois esvaziando os intestinos seria mais fácil combater a causa.
Assadura em bebês – Farinha de milho, polvilho ou nata.
Intoxicação – Clister.
As mães, após o parto, ficavam de cama alguns dias, de preferência no escuro. Em casos de partos difíceis, as primeiras refeições eram servidas na boca, a fim de se mexerem o menos possível. Embaixo dos pés colocavam um travesseiro, para evitar hemorragias. A dieta alimentar, durante toda a quarentena, era bem rigorosa. Também não podiam lavar o cabelo.
Para justificar este recolhimento da mãe, explicava-se às crianças que ela precisava ficar na cama para aquecer o bebê que a vizinha tinha trazido. Valiam-se de tudo e de todos os pobres conhecimentos que possuíam, pois, além de alguns farmacêuticos e algumas parteiras, não tinham a quem recorrer.

Além da parteira, outra figura que se notabilizou nas primitivas colônias italianas foi a do giustaósssi. Recorria-se a ele quando alguém fraturava um osso, o que na posição original, usando a força física e a ajuda dos vizinhos para segurar o paciente. Para amortecer as dores , dava-lhe cachaça ou o massageavam com água quente e sabão. Concluído o trabalho, passavam clara de ovo batida, e sobre ela enrolavam um faixa, que acabava grudando à pele. Entre as voltas da faixa colocavam lascas de taquara para deixar firme a parte doente.
Se o fraturado fosse um braço, faziam uma tipóias com o lenço de cabeça da vovó. Mas se fosse uma perna, o doente devia ficar de cama, como recomendava a sabedoria popular: braço a col, gamba a leto (braço ao pescoço, perna na cama). Caso o aparecesse alguma febre, intervinham com chá de aipo e panos molhados ou chá de malva, que é antiinflamatório.
Muitos desses giustaóssi eram mulheres. Mostravam-se realmente habilidosos, o que deu origem ao seguinte provérbio: Tante volte La pratica Del giustaóssi La Val PI Che La gramática Del dotor (Muitas vezes a prática do ajusta-ossos vale mais que a gramática do médico).

Creolina e Simpatias

Além das doenças das pessoas, tinham que encontrar soluções para as dos animais domésticos. As aves, no período mais quente do ano, sofriam de diversos tipos de doenças. Não tendo como curá-las, procuravam ao menos evitá-las passando querosene nas paredes do galinheiro, creolina nos bebedouros e molhavam o milho com água e creolina.
O querosene era também usado no sal para o gado. Ao ouvirem boatos de aftosa, espalhavam o querosene nos lugares onde os animais dormiam. Se um aparecia contaminado, o mantinham no banhado. Ali, alem de conservar frescos os cascos em ferida, não corria o perigo de se machucar e tinha água e pasto verde à vontade.
Ao notarem que um touro ou cavalo estava com bicheira, não tendo mangueira para prendê-lo, nem laço para amarrá-lo e fazer os curativos, tirando os bichos e colocando creolina na ferida, recorriam aos benzedores.
Esses pediam apenas para indicar a direção em que o animal se encontrava e, sem sair de casa, faziam suas orações, e dizem que a coisa funcionava. A condição era que o dono do animal doente não olhasse para o ferimento durante três dias. Os benzedores tinham o compromisso de rezar diariamente para conservar o seu poder.
Para curar verrugas faziam um colar de nove rodelas de sabugo e colocavam no pescoço do animal afetado, e sempre dava certo.
Os vermes eram outra preocupação, tanto para os animais quanto para as pessoas. O mais temido era a solitária, mas, graças a Deus, para ela também havia uma receita infalível: semente de abóbora.
Ao serem picados por cobras, buscavam a força de alguém com poderes para este fim. Segundo nos garantem, dificilmente alguém morria se seguisse as normas sugeridas.
Além de algum conhecimentos trazidos da sua pátria, das ervas e benzimentos, havia uma simpatia muito usada. Consistia e cavar no mato a uma certa profundidade e dali tirar um pouco de terra virgem. Transformada em barro, era um santo remédio para curar ferimentos.
Quando a ferida é furúnculos na pele em geral, não se preocupavam muito. /segundo eles, era uma forma natural de purificação do organismo. Spurgo de pele, sanitá de budele – diziam (Expurgo da pele, saúde dos intestinos).


Bibliografia:
IOLANDA CESCA QUAINI. Lá stória dei nostri noni. Sobre a imigração italiana no Rio Grande do Sul. Editora Myrian.. Porto Alegre-RS. 2005

Um comentário:

fernando disse...

Esta é uma área que me interessa. Fitoterapia, tratamento natural em geral. Obrigado pelas informações.