quinta-feira, 9 de outubro de 2008

METEOROLOGIA (COSTUMES DOS ITALIANOS)

METEOROLOGIA

Segundo tudo indica, a maioria dos nossos imigrantes italianos – fala-e em setenta por cento – era analfabeta. Como faziam então para se orientar em relação ao tempo e às fases da lua, se não tinham relógio e, se conseguissem uma folhinha para colocar na parede, não sabiam ler?
Quando ao horário se orientam pela posição do sol. Claro que levando em conta as estações do ano, pois em cada uma delas o sol tem horário diferente para nascer e se pôr. E há ainda a posição geográfica em que a pessoa se encontra. Assim no inverno, para quem morava em entre montanhas, às quatro da tarde anoitecia.
Outro ponto de referência era a sombra do próprio corpo. Dependendo da época do ano, quando a pessoa conseguia pisar na própria cabeça, era meio-dia em ponto. Se não havia sol, orientavam-se pelos falos, que costumam contar um pouco antes de meio-dia. Zé Le undeze a méza – diziam – parche i gai i gá scominsia a cantar (São onze e meia, porque os galos começaram a cantar).
Atribuía-se muita importância à lua. Como se sabe, o seu movimento de translação ao redor da terra se dá a cada 27 dias, sete horas e 43 minutos, dividido em quanto fazes ou quartos; crescente, cheia, minguante e nova.
Partindo-se do princípio que na lua crescendo as plantas acumulam mais selva na parte fora da terra, e na minguante, nas raízes, as árvores destinados a fazer cabos para as ferramentas e principalmente para as construções eram cortados na minguante e principalmente para as construções eram cortadas na minguante. Caso contrário, demorariam muito a secar, carunchariam facilmente e durariam menos. Se o seu uso não fosse urgente deixavam para cortá-las na crescente, pois durariam mais.
O contrário devia-se levar em conta na colheita da alfafa: se fosse cortada na crescente, desenvolveria mais rápido. As cebolas não podiam ser transplantadas na crescente, pois no meio das folhas facilmente apareceria uma haste dura, com uma flor na ponta e, em conseqüência, o bulbo seria menor.
Outra conseqüência era a duração menor do produto, que não raro estragava quando estocado no porão. Idem com o repolho que, plantado na crescente, dá uma cabeça pouco maciça. E a mandioca, que produz ramas maiores e raízes menores.
O milho, colhido para ser armazenado em espigas, caruncha mais se colhido na crescente.
Poda de árvore deve ser feita na minguante, quando a seiva se encontra centrada nas raízes. Como regra geral valia o seguinte: O que dá seus frutos embaixo da terra deve ser plantada na minguante. O que se reproduz por estacas, plantar na minguante de maio.
A lua também influía no trato com os animais e as aves. Colocar ovos para chocar - sempre nos primeiros dias após a cheia. Vinte e um dias depois, os pintinhos descascavam, fortes e sadios. Castrar animais, nunca na crescente: a ferida demoraria mais para cicatrizar.
Igualmente por meio da lua podiam prever se teriam tempo chuvoso ou seco. Isto era importante para o tipo de vida que levavam. De fato, como deixar na roça as espigas de milho colhidas, se chovesse durante a noite ou no dia seguinte? Como deixar a alfafa amontoada ao relento, o trigo em feixes, os perdões de milho para alimentar o gado no inverno, que levavam três dias para secar?
Para um bom administrador, saber antever o tempo era questão quase de vida ou morte. Se a previsão fosse de chuva para o dia seguinte, preparavam-se para carnear porcos, buscar farinha no moinho, scartossar (despalhar) milho, fazer certos de strope (vimes) enfim, programar-se para não perder tempo. Irritar-se e brigar com o tempo não adiantava, parche chi col tempo barufa el fá La mufa (Quem com o tempo briga cria bolor).
Toda a sua “ciência” meteorológica era guardada em provérbios, que sabiam puxar na hora certa
Se el sol se sconde a ciel serêm, El bom tempo se mantien. Se o sol se esconde com céu sereno, o bom tempo se mantém.
Arcobaleno a la matina, piova vicina (Arco-iris pela manhã, chuva próxima).
Quando el gal se lava le recie, diman piove a secie ( quando o galo se lava as orelhas,amanhã chove a baldes).
Co canta el rospo, El tempo se fá fosco (qudndo o sapo canta, o tempo se torna escuro).
Co le formighe vá in processission, da piova zê segno bom (Quando as formigas, de chuva é sinal bom).
Stele fisse fá ciama piova (Estrelas densas chamam chuva)
Tre nuvele fá bom tempo, ter brose rompe El tempo (Três nuvens trazem bom tempo, três geadas rompem o tempo).
Tramonto de naransa, da bom tempo Zé speransa (Pôr-de-sol laranja de bom tempo é esperança).
Cielo pecorin promete um bel matin (Céu com aparência de lã promete um bela manhã).
Quando La luna gá El cul in moía, piove, voiao no voia. (Quando a lua aparece assentada , chove, queira ou não).
Bianco de matina, bom tempo s’incamina (Branco pela manhã, bom tempo se encaminha).
Quando le nuvele le fá el pan, piove ancô e dimán (Quando as nuvens imitam o pão, chove hoje ou amanhã).
Co insolentan le moschete, le giornade se fam foche (Quando incomodam as moscas, as jormadas se tornam foscas).
Nuvele verdeline e negrete, tempestá e saete (Nuvens verdolentas ou pretinhas, tempestades e raios).
Co le saracure canta, a la piova se incampa (Quando as saracuras cantam, a chuva se intala.
Co el gal canta de ora, se el tempo zê bom, vá im malora (Quando o galo canta fora de hora, se o tempo está bom piora).
Nuvole rosse, vento o giosse (Nuvens vermelhas, vento ou pingos).
Acobalém a la sera porta seren (Arco-íris à tarde traz tempo sereno).
Co i ázeni se scolta, El tempo se volta (Quando se ouvem os burros, o tempo muda).
Co le soête cantan a la matina, la piova zê vicina. (Quando as corujas cantam de manhã, a chuva está próxima).
Se il cielo se fá in lana, se no piove ancô, piove questa stimana (Quando o céu se transforma em lã, se não chove hoje, chove nessa semana).
Quando l’aqua fá got, piove fin not (Quando a água faz copinhos, chove até a noite).
Piova de istá, beati chi la gá (Chuva de verão, feliz os que têm).
Se piove al di de Santa Bibiana (2 de dezembro), no ghen manca per quaranta di e na stimana (Se chove no dia de Santa Bibiana, não vai faltar por quaarenta dias e uma semana)
Rosso a la será, bom tempo se spera: rosso a la matina, piova vicina (Vermelho ao anoitecer, bom tempo se espera; vermelho de manhã, chuva próxima).
Se piove al di de la Sensa, par quanta di no fá più senza (Se chove no dia da Ascenção, por quarenta dias não fica sem).
La luna setembrina sete mesi la indovina (A lua nova de setembro adivinha sete meses, isto é, se ela coincide com o tempo seco ou chuvoso, os sete meses seguintes serão de seca ou chuva).
Luna sentada, marinar in pie; luna im pie, marinar sentá (lua sentada, marinheiro de pé; lua de pé; marinheiro sentado).
Arco darente (la luna), piova distante; arco distante, piova darente (Arco perto da lua, chuva distante; arco distante, chuva perto).
Mas ao mesmo tempo advertem que:
Chi del tempo parla, par buzier passa (Quem do tempo fala, por mentiroso passa).
Serrasson altra, piova che salta; serrasson bassa, sol che spaca (cerração alta, chuva que salta; cerração baixa, sol que racha).
Outras conclusões eram, por exemplo: quando o sol se põe por detrás de uma nuvem escura, amanhece chovendo.
Indicativos de chuva eram também o coaxaar das rãs, o cricrilar dos grilos e o zurrar do burro ao anoitecer.
Quando apetava a seca, esperavam ansiosos pelo Dia de Ramos ou a Páscoa, pois o provérbio garantia: Dale Palme o dale ova, pochi i zê i ani Che non piova (Do Domingo de Ramos à Páscoa, poucos são os anos que não chove).
Só não viam com bons olhos os eclipses: El ecrissi, sai del sol Che de La luna, porta fredo, mai fortuna (O eclipse, seja do sol, seja da lua, traz frio, nunca fortuna).
Se estavam fora de casa e começava a trovejar, mas sem chover, não havia motivo para preocupação. Mas se, depois de alguns pingos, começasse a trovejar, ali era meter o pé, que vinha chuva graúda: Se trona sensa piova, no ocorre che te mova: ma se piove dopo toneza, tôtela de la veneza (Se troveja sem chuva , não precisa sair do lugar, mas se chove e depois troveja, foge da lavoura).
O ano bissexto era visto como de safras ruins: Ano bisesto, ano del mezo cesto(Ano bissexto, ano do meio cesto).Mas admitiam que podiam enganar-se, pois dal tempo e dal cul dei tosatei no se pol mai fidarse (No tempo e na bunda das crianças nunca se pode confiar). Ou também: el tempo e i siori i fá sempre quel che i vol lori (O tempo e os ricos sempre fazem o que querem). Chi Zé a querto quando piove, le mato se el se move; se el se move e pó se bagna, El Zé mato se El se lagna (Quem está ao coberto quando chove, é doído se se move; se se move e se molha, é doido se depois se queixa).

Bibliografia:
IOLANDA CESCA QUAINI. Lá stória dei nostri noni. Sobre a imigração italiana no Rio Grande do Sul. Editora Myrian.. Porto Alegre-RS. 2005

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom sua publicação . Para nós mais novos e Italianos realmente foi uma aula de História.